Asunción, 10 de junho de 2009.
Caros amigos,
Carrón nos dizia na sua carta de alguns meses atrás, comentando a famosa carta do Papa: “Esta carta tem um ‘respiro’ que nos obriga a agradecer ao Papa, tanto mais quanto mais aumenta a rigidez daquels que reduzem a vida cristã a um moralismo sufocante. Nada mais que uma carta assim faz me sentir orgulhoso da minha pertença eclesial, cheio de confiança de que no dia em que eu tiver errado seria tratado com uma misericórdia do mesmo tamanho” (a carta, publicada no jornal espanhol "La razón", pode ser lida na íntegra clicando aqui; ndt).
Desde março, quando eles nos disse isso, para mim, para os meus doentes e pobres, essa carta se tornou o sentido do nosso estar, do nosso conviver com todos. No fundo, naquela frase está contida a graça do meu modo de olhar para os doentes, para as mulheres de rua, para os homossexuais, para as lésbicas, para os travestis que acolho na minha clínica. Eles têm necessidade daquilo que eu tenho necessidade: O CARINHO DO NAZARENO... sentir-se perdoados, abraçados. Muda-se quando se é olhado assim e apenas assim.
Dia desses, um homem foi preso por pedofilia, depois de ter abusado de algumas das minhas crianças. Deixo a vocês imaginar a dor e a “raiva”. Pois bem, com o coração na mão, sem me preocupar com ninguém, foi abraçá-lo. É o mesmo com cada homem... porque é escandaloso dizer isso, mas mesmo com alguém que é chamado de “pedófilo”: este também é Cristo. Sim. Mesmo ele é Cristo, como o é qualquer pessoa nascida de um homem e de uma mulher. Mesmo os meus travestis são Cristo. E é assim que eu olho para eles, é assim que eu lhes dou a minha pobre vida. Uma coisa é o delito, mas o homem é Cristo. É CRISTO. E relação com o Mistério.
Como posso ter amigos, e mesmo padres, que não entendem isso? Mas, Cristo morreu por mim, morreu pelo perverso, pelo homosexual, pelo pedófilo, pelo homem de rua, morreu mesmo por Hitler... ou não? Todos os dias vivo com aqueles que são chamados o “lixo” da sociedade... porém, em nenhum homem vi, como neles, o sinal inconfundível do Mistério.
Ontem, recebi um email. Vejam o que é o cristianismo, o que quer dizer olhar para um lugar onde há alguém que olha o homem desta maneira... “Caríssimo Padre Aldo, ontem meu marido veio buscar algumas coisas suas – separamo-nos há muitos anos e já lhe contei isso –, e tão logo entrou eu o abracei e lhe dei um beijão como NUNCA havia feito!!! E a culpa é SUA!! Se você vê Jesus nos seus doentes, eu também quero vê-Lo em todos, especialmente naqueles que a vocação me deu”.
Todos os dias, com os meus sacerdotes, rezamos por aqueles que ofendemos para que nos perdoem e por aqueles que nos ofenderam para que saibamos perdoá-los. De forma que cada um de nós, padre ou não, tem que prestar contas com a própria miséria e com a dos outros... de forma que eu me pergunto o que fizemos com aquela provocação de Carrón?
Aqui, comigo, tem uma bela mulher, que é a responsável última das Casinhas de Belém. O braço direito do ditador Stroessner, torturou, matou e desapareceu com seu pai, de forma que há anos não sabem onde colocaram o seu corpo. Na Escola de Comunidade, um dia, eu lhe perguntei: “Jasmin, o que você sente pelo torturador e assassino de seu pai?”. Chorando, ela me disse: “Veja aquele crucifixo na parede... Pois bem, no lugar daquela cabeça de gesso representando o rosto de Jesus eu coloco a cabeça do torturado de meu pai... Sou cristã e não posso viver de outra forma”. E dizia isso chorando.
Então, amigos, rezemos ao Sagrado Coração de Jesus para que também entre nós refloresça a caridade no meio de toda a nossa miséria... que a caridade sustente as instituições... porque ou o coração de tudo é o homem ou somos, de fato, fariseus.
“Paixão por Cristo, paixão pelo homem”: pensava nisso enquanto encontrava e abraçava aquele pobre homem de que lhes falava.
Com afeto
P.e Aldo
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