quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cartas do P.e Aldo 80







Asunción, 01 de julho de 2009.

Caros amigos,
É sempre mais verdadeiro, para mim, que as circunstâncias são positivas.
Estamos na pizzaria para festejar o fim do primeiro quadrimestre das minhas crianças. Já escrevi para vocês contando quem são, de onde vêm e as violências que sofreram: das sexuais às psicológicas, passando pelas físicas.
Tudo começou em fevereiro de 2008. Nem lhes digo em que condições eles chegaram: eram como “macacos”, por um lado, e marcados pela violência, por outro. Depois de alguns meses passaram de 0 a 1 na escola. Um pequeno sinal de que haviam passado de “ninguém a alguém”.
Para mim, foi um milagre que ainda hoje me maravilha, pensando na minha vida, na qual passar de 0 a 1 demorou anos, e só depois do abraço de dom Gius. Porque o verdadeiro drama da vida é passar do sentir-se “ninguém” a sentir-se “alguém”, isto é alguém que vale. E hoje quem nos ajuda nisso? Pessoalmente, vejo no Carrón e em que o segue esta possibilidade.
Junho de 2008 – Junho de 2009: um no se passou. Estão entregando os boletins com as notas. Que surpresa: todos passaram de ano com 5, só alguns 2, 3 ou 4. Aqui, a nota máxima é 5. Imaginem a festa!
Pizzaria: a festa da auto-estima. O pai (P.e Aldo) e a mãe Cristina festejados pelos seus filhos. Queríamos festejar com eles o acontecimento e, de repente, acontece o contrário. Entendo e me comovo: reaconteceu para eles aquele abraço de vinte anos atrás, na via Martinengo, para mim, quando dom Gius me acolheu dizendo-me – único que me disse algo assim na vida: “te levarei de férias comigo” (depois, o P.e Alberto fez igual). Fez companhia para mim. E isso é tudo o que vivo e faço.
As minhas crianças – vítimas de tanto ódio – estão felizes e orgulhosas... vejam! Mas, estão assim porque se sentem carne da minha carne e da de Cristina. Eles se sentem pertencentes a este homem, a esta mulher, que não entendem como podem ser o seu pai e a sua mãe. É o milagre da virgindade pela qual um padre e uma mulher se tornam o modo como o qual Deus manifesta a Sua Paternidade e Maternidade.
Amigos, estou contente com os meus filhinhos. Quantos beijinhos por causa daquelas notas. Mas, existe uma alegria ainda maior: uma destas meninas, violentada pelo seu pai, depois de um ano passou de 0 a 1. Para ela, foi uma festa especial. Agora, ela sorri, busca os meus beijinhos, me olha com uma ternura de filha. Tudo o que sofreu já é uma coisa distante. Sim, porque tento comunicar a eles que eles não são o fruto do passado, mas de uma certeza que me define: “eu sou Tu que me fazes”. Nas Casinhas de Belém não existem psicólogos (não porque não sejam úteis... por caridade!)... mas é claríssima esta certeza: “eu sou Tu que me fazes”. E aqui está o milagre. No fundo, tinha razão Pavese: “qualquer violência nasce da falta de ternura”.
E, tendo iniciado o mês de julho, começamos o segundo quadrimestre.
Rezem para que esta certeza do “eu sou Tu que me fazes” cresça sempre mais.
P.e Aldo

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