Por P.e Aldo
“As circunstâncias pelas quais Deus nos faz passar são um fator essencial e não banal de nossa vocação, da missão para a qual Ele nos chama. Se o Cristianismo é o anúncio do fato que o Mistério se fez carne em um homem, as circunstâncias são o lugar no qual cada um toma posição diante deste fato, diante do mundo todo?”. Assim escrevia monsenhor Luigi Giussani, em 1999, falando do homem e de seu destino.
Todos conhecemos quais são as circunstâncias que nos desafiam a cada momento: uma doença, uma dor de cabeça, o marido que bebe, a esposa fofoqueira, os filhos rebeldes, uma incompreensão etc. As circunstâncias, como diz a palabra, são tudo o que nos toca, nos afeta, qualquer coisa que aconteça em nossa vida, também a perda de tudo.
Por isso, dom Giussani afirma que as circunstâncias não são nossas, não acontecem se não fazem sentido. Quer dizer, não são coisas para se aguentar estoicamente. São parte de nossa vocação, da modalidade com a qual Deus, o Mistério, nos chama, nos desafia, nos educa. Fazem parte do diálogo entre o Mistério presente e a nossa pessoa.
Há alguns dias, um amigo, cujo pai foi torturado por Montanaro – motivo pelo qual seu avô, depois de ter visitado o filho na prisão e ter visto as torturas a que fora submetido, voltando para casa, tirou a própria vida por causa da dor e do desespero – disse: “Neste momento, nesta circunstância, enquanto o juiz Casatti ordena a internação de Montanaro em Tacumbú, graças à fé que me foi dada, perdoo a este senhor que destruiu meu pai”.
Todos ficamos comovidos, porque, para este amigo, até a circunstância das torturas sofridas por seu pai se tornou positiva, quer dizer, relação com o Mistério.
Na clínica, existe uma garota muito bonita carcomida pelo câncer. Tem 20 anos. Pintou até a alguns dias atrás. Ela está consciente que, sem um milagre, sua vida está se acabando. Porém, não se escuta nenhum lamento vindo dela, apenas ação de graças e um “estou bem, padre”. Para ela, até a morte permite cantar a glória, a beleza, o amor de Deus.
Seus quadros que descrevem o fim do inverno e o amanhecer da primavera, com mil flores e grandes ipês floridos, entre os quais brilham os roxos (interessante simbologia, que descreve o aproximar-se de seu encontro definitivo com Cristo), são um canto de positividade do real, não importa se a circunstância é dramática e dolorosa.
* Publicado no boletim da Paróquia São Rafael, em Asunción. Enviado pelo secretário do P.e Aldo. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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