quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

1942/Alemanha - 2010/Brasil

Publiquei, há quatro anos, o post que segue abaixo... Na ocasião - ano de campanha eleitoral -, eram evidentes, para mim, as semelhanças entre o que os jovens da Rosa Branca criticavam do regime nazi-fascista alemão e o regime que poderia ser descrito como ditadura edulcorada do lulo-petismo brasileiro. Hoje, passados mais quatro anos de totalitarismo edulcorado, de pobrismo paternalista esvaziador da consciência e da liberdade, de censura velada da imprensa, de controle estatal dentro de casa, de ignorância como sinônimo de poder, de culto à personalidade parva do rei da escatologia... e, enfim, de mediocridade elevada à categoria de valor, as parecenças se tornaram ainda mais gritantes... Não é demais lembrar, inclusive, as semelhanças de alguns personagens da política brasileira atual com os porcos Napoleão e Garganta de "A Revolução dos Bichos", de George Orwell... e por que não nos lembrarmos também do Partido tal como descrito em "1984", do mesmo escritor? Mas, deixo à avaliação de vocês o que esses jovens alemães escreveram há mais de 60 anos atrás.

No verão de 1942, um grupo de jovens universitários alemães começou a divulgar uma série de panfletos contra o Nazismo. Tratava-se da Rosa Branca: Sophie Scholl, Hans Scholl, Christoph Probst, Alexander Schmorell, Willi Graf, Kurt Huber, George Wittenstein e Hans Leipelt compunham o grupo de resistência passiva. No dia 27 de julho de 1942, escreveram o primeiro de seis panfletos, antes de começarem a ser perseguidos e alguns decapitados pelo regime nacional-socialista.

Segue uma tradução (do italiano) de um extrato do primeiro panfleto:

"Não há nada de mais indigno para um povo civil que deixar-se governar, sem nenhuma oposição, por um bando de irresponsáveis dominados pelos próprios instintos. Não é verdade que cada alemão hoje se envergonha do seu governo? E quem de nós tem idéia das dimensões da infâmia que um dia cairão sobre nós e sobre nossos filhos, quando o véu cair dos nossos olhos e enfim vierem à luz os crimes mais horríveis, infinitamente superiores a qualquer medida? Se o povo alemão está assim corrompido e deteriorado na sua mais íntima essência a ponto de renunciar, sem levantar nem menos uma mão e numa confiança irracional na discutível legitimidade da história (...); se renuncia à liberdade do homem de intervir no curso da história e submetê-lo às próprias decisões racionais; se os alemães, assim privados de toda individualidade, se tornaram uma massa insípida e vil, então, de fato, merecem a ruína.
Goethe fala dos alemães como de um povo trágico, semelhantes aos judeus e aos gregos, mas hoje se parecem mais a uma manada insignificante e privada de vontade, de adeptos, privados, nos extratos mais profundos, do próprio miolo e roubados da própria essência, prontos a deixar-se conduzir à ruína. Parece assim, mas não é assim; antes, com uma violência lenta, enganadora e sistemática, cada indivíduo foi induzido a caminhar em direção a uma prisão espiritual e apenas quando se descobriu acorrentado, se tornou consciente da desventura. Só poucos reconheceram a ruína iminente, e o prêmio para suas heróicas advertências foi a morte. Será preciso ainda falar do destino destes homens.
Se cada um espera que o outro comece, os mensageiros da Nemesi vingadora se aproximarão sempre mais, sem limites, e então ainda uma última vítima será lançada sem sentido nas mãos do demônio insaciável. Por isso, nesta última hora, cada indivíduo, consciente da própria responsabilidade como parte da civilização cristã e ocidental, deve opor-se até onde puder, trabalhar contra o flagelo da humanidade, contra o fascismo e contra todo sistema de Estado absoluto semelhante a este. Façam resistência passiva - resistência -, onde quer que estejam, impeçam que esta máquina de guerra atéia continue a funcionar, antes que seja muito tarde, antes que as últimas cidades se tornem, como Köln, um monte de escombros e antes que a última juventude do povo derrame seu sangue por causa da arrogância de um ser sub-humano. Não esqueçam que cada povo merece o regime que suporta!".

* Na foto: Alex Schmorell, Sophie Scholl e Hans Scholl

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