"A terceira coisa que (...) nos é indicada é a caridade fraterna. (...)
Nós tratamos os outros, normalmente, mutilando a sua história (...). O que quer dizer mutilar a história do outro ou mutilar a pessoa, reduzir o outro e reduzir a história do outro? Tendemos a reduzir a história do outro aos nossos critérios e à nossa medida, ao nosso estado de ânimo, à nossa conveniência, à nossa avaliação das coisas. Tendemos a reduzir a história do outro a isto e tendemos a mutilar a personalidade do outro, porque sublinhamos aquilo que nos interessa, aquilo que corresponde, e aquilo que não corresponde e não nos interessa não o olhamos, ou então alimentamos uma raiva contra. Quer dizer: é a instrumentalização do outro. Este é o primeiro colossal e permanente pecado nos nossos relacionamentos: a instrumentalização do outro.
O segundo aspecto que sublinho, entre todos aqueles para os quais posso chamar a atenção, é uma modulação desta mutilação do outro e desta redução da história do outro, desta instrumentalização, que se chama indiferença pelo outro. (...)
O terceiro aspecto é aquele que a liturgia de ontem chamava 'apontar o dedo' [refere-se ao texto de Isaías, capítulo 58], ou seja, a ira, ou como ressentimento interior ou como ressentimento explosivo ou como ressentimento serpenteante (lamentação e murmuração).
Aquilo que origina estes graves erros na caridade fraterna, que a Quaresma nos convida a ficar de olho - ficar de olho quer dizer que, cada dia, vocês devem fazer o exame de consciência sobre estes pontos; fazer o exame de consciência significa pedir a Cristo que estas coisas sejam perdoadas pela Sua misericórdia, por isso reabsorvidas na nossa história, eliminadas; sem esta paciência não é pedir -, o que origina estes erros na caridade fraterna é a falta da 'simplicidade de coração', que é o aspecto psicológico da 'pobreza de espírito'."
(GIUSSANI, Luigi. La familiarità con Cristo: meditazioni sull'anno liturgico, 2008, pp. 64-66)
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