Asunción, 9 de junho de 2010.
Caros amigos,
Que bonito o artigo de Carrón que foi publicado no Observatório Romano de hoje (leia a íntegra do artigo, em português, clicando aqui; ndt).
Enquanto o “devorava”, pensava no diálogo que tive, ontem à noite, com minha filhinha Verônica, de oito anos, que me havia pedido para conversar. Ela ficou órfã porque os pais morreram de AIDS na minha clínica e, antes de a mãe morrer, me confiaram Verônica como minha filha.
Verônica está diante de mim, sentada. Olha-me com os olhos úmidos e me diz: “Estou com saudade da mamãe, sinto sua falta. Estou triste e não sei por quê”. Peço-lhe que tente responder o “porquê”. Depois de alguns minutos, chorando, me disse: “porque sinto que me falta alguém e não sei quem é”.
Imaginem vocês a minha surpresa e comoção. Somente o gênio, somente a criança provada por tanta dor é capaz desta intuição. Que soco no estômago para nós burgueses, anestesiados pela carreira, pelo sucesso, pelo trabalho! E no meio disso, Carrón nos reconduz, em cada momento, a Verônica... inclusive a nós padres, que pensamos em educar à força de uma psicologia ou da psicanálise, ou insistindo sobre as consequências éticas ao invés de nos mantermos diantes do Mistério, tal como fomos provocados pelo caso Eluana, pela questão dos crucifixo, pelo artigo de Natal e o belíssimo juízo “Feridos, voltamos a Cristo”.
Sem este juízo estaríamos terrivelmente sozinhos, vítimas das regras (mesmo que importantes) e cheios de medo, especialmente nós que vivemos 24 horas por dia com crianças. Porém, Verônica, com seus oito anos, me fez reviver o percurso deste último ano, fazendo-me entender que ou retornamos à originalidade do nosso coração, ou nos descobriremos tristes e perdidos.
Partilhei, no Brasil, alguns dias com Marcos e Cleuza e os responsáveis últimos da América Latina. Uma festa cujo centro foi o drama de Verônica, com suas perguntas... mas também a pergunta sobre o que significa seguir Carrón. Cleuza dizia: “só se, em nós, existir uma célula de Giussani, poderemos entender o que significa o movimento, e então viver como filhos de Carrón”.
Se for o contrário disso, o Movimento será sempre algo eficaz agora que, porém, tornará a vida triste, metendo-nos no grupo dos ex-combatentes, dos aposentados... Talvez até com muitas medalhas, porém tristes e nostálgicos.
É mesmo belo o desafio.
Ciao
Padre Aldo.
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