Asunción, 14 de agosto de 2010.
Caros amigos,
Estas semanas foram bonitas porque particularmente difíceis, de forma que Paolino me disse: “Vamos a São Paulo para encontrar Marcos e Cleuza”. “Era exatamente isso que eu estava pensando”, lhe respondi. É muito bonito que também ele sinta essa exigência, que é apenas de quem é verdadeira com a própria humanidade. E assim pegamos o avião. Praticamente, nesses dois últimos meses, nos vimos quase toda semana. Quando chegamos, Cleuza nos disse: “Se vocês não tivessem vindo, mesmo Marcos e eu empenhados com a campanha eleitoral, teríamos ido até vocês”.
Por quê? Quando se vive intensamente a realidade, quando não se brinca com a própria humanidade, quando não se tira férias do próprio eu, a pessoa começa a sentir a urgência de estar com quem está empenhado na mesma aventura. O mundo de dor no qual eu vivo (somente no último sábado, morreram cinco pacientes), crianças vítimas de violência, que chegam continuamente, ou o empenho intenso de Marcos e Cleuza nesse momento no qual estão enfrentando a campanha eleitoral, sustentados apenas por amigos, porque não têm o poder econômico dos outros, com todas as dificuldades que estão em jogo, sim ou sim, faz com que a pessoa sinta a urgência de ver o rosto de quem mais recorda Cristo, ou melhor de quem é a Presença de Cristo.
Por isso, foi comovente o tempo que passamos juntos. Poderia sintetizar assim o que aconteceu, porque, para nós, o vermo-nos é sempre e somente um acontecimento.
1. Essa companhia é cheia de serenidade, porque somos unidos, somos parte de uma grande amizade. O empenho político de Marcos é um instrumento privilegiado para anunciar a Cristo, fazer conhecer o Movimento e um meio para ajudar a Associação da qual são responsáveis. É bonito ver no jornalzinho (são 2 milhões de cópias) o programa de Marcos e a nosso foto – seus amigos. Quem, na Itália, faria algo assim? Além do mais, em plena campanha eleitoral, entre um comício e outro, veio nos pegar e depois nos levou ao aeroporto. E, mais ainda, não existe empenho político que o impeça de ir à Escola de Comunidade ou aos encontros da Fraternidade, toda segunda-feira. Cleuza dizia: “Cristo se mostra através de uma Presença. Não me manda sinais, mas amigos, ou seja, uma Presença”. A maior dor de Cristo não foi física, mas moral: a solidão, o abandono, a traição. A presença de Cristo é uma amizade.
2. Não temos necessidade dessa companhia; de outra forma, como conseguiríamos enfrentar o oceano de dor que nos circunda, como por exemplo, as milhares de crianças violentadas e os seus violentadores? Que, por sua vez, são vítimas de abusos sofridos quando crianças?
3. “Eu não posso amar a Cristo se, antes, não experimento o amor que Ele tem por mim. E é uma alegria experimentar essa Presença dentro da luta (mesmo política) de todos os dias”.
4. “A peregrinação a Aparecida indicou o limite das nossas capacidades e, por isso, mendicamos caminhando até o Santuário. Agora, a campanha política é a continuidade daquela peregrinação. Não importa se Marcos vai vencer ou não, o que importa é que tudo isso é para a glória de Cristo. O resultado não importa como não importam as traições ou o abandono de alguns amigos. Aconteceu também a Jesus”.
Amigos, bom feriado [no dia 15 de agosto, na Itália, se comemora um feriado chamado Ferragosto, que coincide com o meio do verão, data na qual se celebra a Assunção da Virgem Maria; ndt], com esses pensamentos dos meus amigos. Estar com eles é, de verdade, uma “conversatio in coelis”. Por isso, recorremos uns aos outros muito frequentemente, porque é muito grande a sede que temos de Cristo.
Padre Aldo
5 comentários:
Paulo, parabéns pelo blog - sempre atualizado com conteúdo que nos ajuda a viver a vida com mais gosto e beleza, mesmo em meio à contradição! Este testemunho do Pe. Aldo é importante, pois nos chama a atenção para rostos concretos de pessoas que podemos olhar - Cleuza e Marcos Zerbini, que nos comunicam Cristo! Se possível, peço para divulgar o meu blog no Mosaico: www.sede-de-infinito.blogspot.com
Grande abraço,
Milton.
"Quem, na Itália, faria algo assim?"
Que tristeza ler isso. Por que desqualificar algo para valorizar uma ação?
CL simplesmente não existiria sem a Itália! Onde ficou o uso da razão segundo o que aprendemos do nosso caríssimo D. Giussani?
Com todo respeito, esqueceram de nossa história, de tantas belezas que nasceram desta experiência ao longo das últimas décadas?
Querida Jussara,
Uma única frase, tirada de toda a carta, indica muito pouco disso a que você chamou de "desqualificação"... É bem verdade o que você diz quando afirma que não é isso que aprendemos do uso da razão. Vale para a frase (tirada do seu contexto), mas vale também para o juízo que você fez do que ela significa. As cartas que recebo do Padre Aldo são dirigidas a amigos da Itália. E, em geral, ele "puxa a orelha" de muitos desses amigos que vivem - como ele mesmo diz - de forma "burguesa" a experiência de CL. Você pode notar esses "puxões de orelha" em muitas outras cartas.
Mas, a coisa mais importante mesmo, Jussara, é entender que CL não existiria, na verdade, se não existissem pessoas que levam a sério as indicações de trabalho de CL. Itália, Brasil, Paraguai...? Não é isso que está em jogo, né? O que está em jogo sou eu, é você, é cada um de nós.
Puxar a orelha não é esquecer nossa história... Para mim, pelo menos, fica como um chamado de atenção para viver a experiência que Dom Gius introduziu na minha vida, através de tantos encontros que fiz. A pergunta que o Aldo fez para as comunidades na Itália, eu a faço para mim: eu faria algo assim? Portanto, esse "puxão de orelha", pelo contrário, me faz assumir mais consistentemente a história na qual fui imerso.
Abraço forte
do Paulo
Caro Milton,
É verdade o que diz... e que bom é poder encontrar pessoas que nos apontam um rosto, no meio da confusão.
Já disponibilizei um link para o "Sede de Infinito".
Abraço
do Paulo
Obrigada Paulo, e parabéns por este espaço salutar de diálogo.
Descontextualizar é tão perigoso quanto generalizar.
Vc pergunta "eu faria algo assim?" Considerando o contexto da minha vida, devo responder sinceramente que não. E aí está o ponto.
Sabe qual a minha área de trabalho? Dança. Bailarina, professora. Aos olhos da sociedade sou "improdutiva", "inútil". E por hora parece que também "burguesa"!
Aprendi com D. Gius. que o importante é o como se faz, como disse Pde.Aldo: "o que importa é que tudo isso é para a glória de Cristo'.
Então eu que fui deixada pelo marido, tenho dois filhos pequenos pra criar, uma profissão mal remunerada, etc. etc. "não faria algo assim". E daí? Parece que hoje a experiência no campo político a favor dos "pobres" é a única coisa a valorizar neste universo. Isso é redutor e está se tornando quase sufocante.
Abraço
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