Asunción, 25 de fevereiro de 2011.
Caros amigos, este mês foi, para mim, uma sucessão de fatos que me provocaram muito e, ao mesmo tempo, me tornaram mais consciente da minha pertença a Cristo através daqueles rostos nos quais a evidência do Mistério é concreta, precisa e cheia de comoção. Amizade que, em cada momento, me grita “É o Senhor!”, como naquela alvorada, no lago de Tiberíades, quando Pedro acordando na barca e olhando para a margem do lago, não reconhecendo o Senhor que vinha em direção a ele, assustado pensou que era um fantasma, mas de repente o amigo João, que carregava nos olhos e no coração o encontro tido com Jesus naquele dia às margens do Jordão, reconhece quem era aquele “fantasma” e grita aos amigos da barca: “É o Senhor!”.
Foi suficiente que um deles reconhecesse que era Jesus para que Pedro, o homem do medo, frequentemente vítima das suas fantasias, se lançasse na água do lago para alcançar aquele homem, abraçá-lo, deixar-se abraçar e, naquele abraço, sentir toda a Sua ternura, aquela ternura que é a única que pode salvar o homem.
“É o Senhor!”. Não posso viver sem que alguém continuamente me recorde, desperte em mim esta consciência, para que as duras circunstâncias da vida não me sufoquem. Como seria possível, sem esta certeza de que “é o Senhor!”, olhar no rosto a dor das minhas crianças, dos meus doentes e também a minha dor? Porque cada lágrima, cada gemido são também meus.
Neste mês, estive quatro vezes no Brasil. Certamente, para alguns pode parecer exagerado. Mas, eu lembro bem que, quando a depressão me atormentava a vida – nos inícios de 1989 –, em poucos meses, eu havia feito 20 mil quilômetros procurando refúgio nos diversos santuários marianos do norte da Itália e nos pouquíssimos amigos que podiam me fazer companhia. A pessoa se move apenas na medida em que é atraída por uma beleza, e a beleza é sempre dramática, porque a beleza é a vida ou a realidade definida pelo encontro com Cristo. Antes, como agora, o que me move a fazer estas viagens é a minha necessidade de estar próximo de quem, afetiva e efetivamente, me chama a atenção, me remete a “é o Senhor!”.
É nesta óptica que nasce a preferência, aquela preferência que envolveu na mesma experiência também o P.e Paolino e outros amigos que vivem comigo. Uma preferência que se dilata sempre mais e que se reflete no abraço a toda criança, a todo ancião, a todo paciente terminal. É possível carregar consigo a dor dos outros apenas se a sua dor é compartilhada com alguém que lhe quer bem. e não porque isso seja capaz de substitui-lo no enfrentamento da própria dor, mas apenas porque lembra a você que “é o Senhor!”, porque, na medida em que você está próximo daquela dor, você é remetido à doce Presença de Jesus. Certamente não faltam dificuldades, mas na experiência de olhar a Jesus no próprio rosto tudo se torna bem, mesmo o cansaço de estar aqui, no aeroporto de São Paulo, esperando o avião que sempre se atrasa absurdamente, de forma que chegarei em casa apenas às 3 da manhã.
É exatamente graças a esta fadiga que, na certeza de que “é o Senhor!”, posso enviar a vocês estas linhas, a fim de lhes comunicar a alegria de estar junto dos amigos que me recordam constantemente a única coisa que me interessa: “É o Senhor!”.
Deus queira que todos possamos ter esta alegria nos nossos rostos, não importando onde nem como, mas que nos lembrem sempre: “É o Senhor!”. A pessoa se move apenas por isto. O problema não são os quilômetros ou os metros, mas a consciência de que apenas Cristo realiza, educa àquele desejo de vida que todos carregam dentro de si. Não vejo a hora de rever os meus filhos, para lhes dar esta certeza que também é um frescor afetivo cada vez maior.
Com afeto
P.e Aldo
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