segunda-feira, 27 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 40


Asunción, 27 de novembro de 2008.

Caros amigos,
Olhando, ontem à noite, para a minha pequena Cristina, que dorme no mesmo quarto de Victor e do meu filho Aldo, vi, na sua posição física, a concretude daquilo que Giussani afirma na Escola de Comunidade (...): “o verdadeiro seguir é uma amizade”. Aquilo que nós chamamos de obediência é realmente uma amizade e, de fato, São Paulo, falando de Jesus, dizia que por amor ao Pai se fez obediente até a morte, exatamente até o fim, porque tinha entendido que aquilo que o Pai lhe pedia era justo por uma misericórdia, por uma piedade pelos homens (que comoção... até as lágrimas... eu que convivo 24 horas por dia com a dor e a morte), a fim de salvar os homens, pela liberdade dos homens (entende-se por que existem Victor, meu filho ou Cristina deitada em forma de cruz... E há quem me peça discrição no mostrar as fotos... mas, no fundo, é a mesma maldita “discrição” que se quer quando se pede para retirar os crucifixos das escolas... escandaliza ver a beleza da dor, da morte feita carne... não se suporta o espetáculo do Mistério crucificado na sua carnalidade... para poder nos trazer para a felicidade). Meu Deus, vocês entendem porque eu falo da depressão como um graça? Da doença como uma graça?...
Por favor, leiam “Getsemani” de Peguy, especialmente aquele trecho em que ele fala da “neurastenia” (que todos traduzem com a palavra “depressão”), para nos lembrar que apesar de Sua natureza divina, Jesus era um homem e, por isso, obediente... a Sua pessoa, o Seu eu, o Seu coração divino, porque eram da mesma substância do Pai, eram um ímpeto de amor (porque “Deus é amor”, como escreve São João), não podiam DIZER NÃO. Ele compreendia aquilo que o Pai lhe pedia e sabia como atuar... imitava o Pai, que tinha criado o mundo por amor.
Com lágrimas nos olhos, gostaria que as centenas e centenas de pessoas que me escrevem, atormentadas por todo tipo de doença – das mais terríveis (como as psíquicas) às físicas – pudessem repetir, de joelhos, milhares de vezes ao dia, certas palavras... Mas, então, vocês entendem por que escrevo certas coisas, porque, no Meeting, disse aquelas coisas que constroem um mundo de bem no mundo inteiro.
Ontem à noite, depois da Escola de Comunidade, uma pessoa me disse: “Padre, há 20 anos, quando você chegou, ao ouvi-lo falando, nós nos dissemos: ‘mas, quem é este louco?’... literalmente, nós dissemos ‘esquizofrênico’... porém, sentíamos vibrar em você algo que nos escapava e que sentíamos correspondente ao nosso coração... e, por isso, nós procuramos você”.
Fiquei comovido, porque é verdade: a minha doença foi a graça que me permitiu à minha aparente não-liberdade aderir ao desígnio de Deus, mesmo quando as obsessões pareciam ser as senhoras absolutas do meu não-pensamento (porque a minha cabeça era constantemente torturada). Não seria capaz de acreditar que aquilo que a Escola de Comunidade diz fosse verdadeiro e que fosse a graça maior mesmo para mim. Deus se serviu de mim – julgado como doido (e, de fato, talvez eu o fosse e o “seja) – para mostrar a Sua Onipotência, a Sua Misericórdia.
Como não sentir Giussani vivo na Escola de Comunidade? Como não “nos alimentarmos dele”, possuir a Escola de Comunidade? Como gostaria que os médicos em particular – que, muito frequentemente, se creem “Deus” – colhessem aquilo que Giussani nos diz! Seria uma revolução na medicina e mesmo na psiquiatria.
Leiam, por favor, “Getsemani” de Peguy.
Que o Advento nos faça reflorescer quanto ao que respeita à dor e à morte.
P.e Aldo.

Nenhum comentário: