segunda-feira, 27 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 41


Asunción, 24 de novembro de 2008.

Caros amigos,
como posso não comunicar a vocês a alegria de ter tocado com a mão alguns dos sinais inconfundíveis da Presença de Cristo entre nós, como nos repete sempre Carrón?
1. Fui a Quito, no Dia de Início de Ano. Uma surpresa imprevista diante destes sinais, a ponto de ter preferido não dizer nenhuma palavra, depois de ter escutado, por três horas, a 3 mil metros de altitude, Amparito (que, nos próximos dias, estará na Espanha e na Itália, por ocasião das Tendas de Natal) e as suas amigas negras que contaram suas histórias (como a de Vicky) cheias de dor, de angústia... e, finalmente, o encontro com Estefânia – uma pessoa do Grupo Adulto – que lhes mudou a vida. Não apenas suas vidas de discriminação (todas descendentes de negros trazidos da África há alguns séculos atrás), mas também de morte, de atrocidades impensáveis. Um encontro e a vida muda. Mando-lhes alguns de seus testemunhos.
2. Da mesma forma em Lima (no Peru), onde estive por alguns dias, por ocasião do Happening, para escutar e aprofundar o mote que definia a vida de Andrea Aziani, o amigo memor que morreu este ano: “Febre de vida”.
500 pessoas atentas e comovidas! Pareciam crianças nas quais vibrava o frescor do início. Algo bem diferente do burguesismo ou do olhar para Giussani como um mito! As referências a Carrón como pai, mestre e amigo, são já familiares. Sente-se no ar um frescor, frequentemente desconhecido no primeiro mundo. Sim, exatamente assim! Febre de vida.
3. Por três dias, na volta, tive a graça de estar com os Zerbini – Marcos e Cleuza – em nossa casa. Contar tudo o que aconteceu é impossível. Porém, é suficiente sublinhar que, para mim, foi como reviver o encontro com Giussani ou aqueles breves mas intensos encontros com Carrón. Seja caminhando juntos, seja almoçando ou jantando, qualquer coisa que enfrentássemos, tudo era determinado pelo Mistério presente “nos sinais inconfundíveis” de cada fragmento da realidade. Foi uma retomada contínua de cada palavra da Escola de Comunidade, do ensinamento de Carrón. Era evidente, entre nós, que Giussani não é e não pode ser um mito, mas uma presença viva, visível no frescor das referências, dos sinais inconfundíveis da Sua Presença, a Presença do Mistério. Muitas vezes viz lágrimas nos olhos de Marcos: seja quando visitamos juntos cada paciente da clínica, seja quando fazíamos a procissão com o Santíssimo, seja quando encontramos os responsáveis desta pequenina cidade da caridade, na qual o Mistério revela o Seu rosto misericordioso.
Todos ficamos surpresos: este homem, este deputado – o mais votado da cidade de São Paulo (uma cidade com mais de 20 milhões de habitantes) –, com lágrimas nos olhos ao ver os “sinais inconfundíveis do Mistérios” que, através dos meus filhos, se manifestam. Sinceramente, só vi Giussani comovido assim diante da realidade e, mais recentemente, também Carrón. Quem de nós, padres (somos duros...) ou leigos, olhando os sinais inconfundíveis da Sua Presença, chora? Quem, vendo as minhas crianças doentes, entre os padres ou os leigos, chora como Marcos? Vi apenas ele. E não por uma emoção, como ele sublinhou, mas por um juízo: olhando para os doentes, escutando os testemunhos dos responsáveis de toda esta caridade, viu a Presença do Mistério.
Era a primeira vez que, em 20 anos de missão, me senti como no dia em que Giussani, abraçando-me e olhando-me nos olhos – eu com esta minha cabeça desnorteada, com a depressão – me disse: “agora, me sinto seguro de você e, por isto, mando você para o Paraguai”. Ver, depois de 20 anos, um homem que me toma pela mão, me olha, nos olha e chora, me convenceu ainda mais de que não apenas eu, mas tudo é obra do Mistério e, por isto, as fotos que tenho eu as mando para vocês – fotos que, para alguns, são justamente uma provocação que desconcerta, são belas, porque a beleza é o esplendor da verdade. Eles são o esplendor, para nós que confundimos a beleza com a simpatia, com o esteticismo... nós que a uma mulher que corresponde aos cânones de Miss Paraguai (aqui existe uma dessas, que trabalha como secretária do nosso semanário) chamamos de bela e olhamos, enquanto que alguém como Victor é escandaloso. Mas a beleza é o se manifestar da verdade, e somente a verdade comove, muda a vida. A realidade sempre é bela. Torna-se feia quando a manipulamos, segundo um destino que não é o seu. Como quando uma mulher é olhada não como sinal do Mistério, mas como um objeto para ser usado ou um instrumento ou um interesse particular. Victor e Celeste são belíssimos, porque são a realidade como Deus permitiu que se manifestasse, porque são o esplendor da verdade, porque é o Mistério que os faz, os mantem vivos. Por isto, suscita não emoção, mas grito para que a nossa vida mude.
Estou escrevendo estas linhas ao lado da pequena hóstia branca Celeste: uma criança solitária, gravemente doente de leucemia. Ela está fazendo um carinho no meu cotovelo... sinto a sua dor, vejo Jesus, ela o torna palpitante e me comove. Gostaria tanto – e peço isso a Jesus, através de Celeste que me olha com seus olhos pretos, apertando um pequeno ursinho de pelúcia – que todos nós, os velhos do Movimento, pudéssemos reaver o coração dos Zerbini. Falar de política, de economia, fazer pregações, ou conferências sem os olhos úmidos como os de Marcos, para mim, é como se tivéssemos reduzido Giussani a um mito. Deus nos perdoe, me perdoe, depois de tudo o que vi, toquei, se ainda não somos capazes de comoção.
Então, vocês entendem, lhes pergunto, o que quer dizer ver um homem tocado pelo Mistério, um homem que leva a sério realmente a Escola de Comunidade e a Carrón, como Marcos, comovido até as lágrimas no ver e escutar os meus amigos, pequenos, doentes e todos os meus amigos leigos, casados ou não, pessoas simples que formam aquilo que vocês chamariam de um conselho administrativo?
Nunca me havia acontecido uma coisa igual... e como gostaria que cada dia tivesse a espessura que tem para estes meus amigos do Brasil.
Com afeto.
P.e Aldo
P.S.: Milagre de amor: Celeste depois de anos de dor e tristeza sorri (veja na foto anexa).

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