quinta-feira, 9 de julho de 2009

Dos artesãos às cooperativas: a Itália perto da Encíclica

Entrevista realizada por Gian Guido Vecchi com Giorgio Vittadini, presidente da Fundação para a Subsidiariedade, quinta-feira, 9 de julho de 2009, publicada Corriere della Sera.

Giorgio Vittadini é fundarod da Companhia das Obras, é presidente da Fundação para Subsidiariedade, tema central da Encíclica Caritas in veritate. Para ele, a idéia de mercado do Papa é mais rica e real. Parte da nossa economia já tem um objetivo ideal.


Na Encíclica de Bento XVI existe uma idéia de que o desenvolvimento deve dar espaço para o “princípio da gratuidade”. Utopia?
Mesmo uma máquina de polir ou uma máquina para fresar madeira podem ser um aspecto da gratuidade.

Não entendi, professor.
Pense nas pequena e média empresas, em tantos que querem sim o proveito, mas como instrumento: para viver e fazer viver melhor, mas também para o bem comum. São aqueles a quem agrada a ideia de criar empresas e coisas para o bem, que cuidam do produto final porque se interessam por ele e desejam criar um ambiente confortável, aliar-se com o trabalhador, tornar rico o território. Penso na tradição do mercado italiano, nos movimentos católico e operário...

E o que isso tem que ver?
Tem que ver... tem que ver. Para dar um exemplo da Itália: são movimentos que tornaram o capitalismo permeado pelos ideais de justiça e de busca do bem comum, para além do injuriado liberalismo finaceiro. De resto, no início do século passado, as poupanças rurais e ou os bancos populares faziam finanças criando o bem comum.

Não é uma utopia, portanto?
Não. Há uma leitura profética, fundada na realidade. A subsidiariedade e o mercado são enfrentados a partir de uma concepção de homem. Anos atrás, falava-se muito de “recursos humanos”, aqui, porém, se coloca o homem no centro da economia: caridade na verdade. É revolucionário: a caridade – o “dom de si comovido”, dizia dom Giussani – é a verdade do homem feito a imagem de Deus, que é caridade. Portanto, o homem é responsável pelos outros homens.

E então?
E então, a subsidiariedade é a valorização deste homem que não está sozinho e é capaz de fazer o bem. Nasce de uma pergunta: como posso levar o bem comum? Com o Estado? A partir de cima? Ou, melhor ainda, dando valro a todas aquelas pessoas, movimentos e grupos intermédios da sociedade que, de baixo, sendo expressão do homem, só podem agir para o bem?

O Papa se refere à globalização...
O governo do alto, como união de Estados, arrisca-se a não ter efeito porque não valoriza sujeitos capazes de fazer o bem. No mundo existem comunidades locais, associações, movimentos, realidades que operam para a liberdade e a justiça, para o ambiente ou contra o trabalho infantil, existem pessoas como o economista Muhammad Yunus que se envolvem. Existe uma interconexão de realidades virtuosas que diz muito mais do que os modelos teóricos.

E a realidade italiana pode ser um modelo?
Na Itália, existe já um mercado muito mais próximo daquele de que fala a Encíclica. Das pequenas e médias empresas às associações de artesãos, à Liga das Cooperativas, à Companhia das Obras... temos uma economia que aceita o mercado, tendo, porém, um objetivo ideal.

A ética na economia?
O mercado pode ser entendido como lugar de puro egoísmo ou como lugar de compartilhamento, ou como oferta de bens que melhorem a vida das pessoas. Um dos maiores méritos da Encíclica é o de não dizer “não” ao mercado e à empresa, e “sim” apenas ao non profit e voluntariado. Redefine empresa e finança de um modo menos histérico, ofere uma ideia de mercado mais multifacetada. Representa o fim da ideologia segundo a qual a economia, para definir-se, não tem necessidade do homem.

Tudo bem... mas e a máquina de polir?
Adam Smith distinguia valor de uso de valor de troca. E o valor de troca existe porque esta é uma coisa útil, feita de modo adequado e bela, portanto vivo melhor. Se o proveito é um instrumento, qual é o objetivo? O “dom de si comovido”: o empresário olha para o proveito mas, junto disso, busca tornar o seu produto melhor. A idéia de economia do Papa é mais rica, colorida e real.

* Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

Nenhum comentário: